Esteatose Hepática: Uma Epidemia Silenciosa do Século XXI

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Introdução

A esteatose hepática, popularmente conhecida como “fígado gorduroso”, é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura (triglicerídeos) no interior das células hepáticas. Considerada uma das doenças hepáticas mais prevalentes no mundo, a esteatose afeta cerca de 25% da população global, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Apesar de inicialmente ser assintomática e muitas vezes benigna, a esteatose hepática pode evoluir para quadros mais graves, como esteato-hepatite, fibrose, cirrose e até câncer hepático. Sua incidência crescente está diretamente associada a fatores como obesidade, diabetes tipo 2, sedentarismo e má alimentação — o que a torna uma preocupação de saúde pública mundial.

Classificação da Esteatose Hepática

A esteatose hepática é dividida em duas grandes categorias:

1. Esteatose Hepática Alcoólica (EHA)

Resulta do consumo excessivo e crônico de álcool, que prejudica o metabolismo lipídico hepático. A toxicidade do etanol leva à inflamação e dano celular, favorecendo o acúmulo de gordura no fígado.

2. Esteatose Hepática Não Alcoólica (EHNA ou NAFLD – Non-Alcoholic Fatty Liver Disease)

Ocorre em indivíduos que não consomem álcool em quantidades prejudiciais, sendo associada principalmente à síndrome metabólica. Pode progredir para a esteato-hepatite não alcoólica (NASH), forma inflamatória da doença.

Fisiopatologia

O mecanismo exato da esteatose hepática ainda não é totalmente compreendido, mas sabe-se que envolve múltiplos fatores metabólicos. Os principais eventos fisiopatológicos incluem:

  • Resistência à insulina: diminui a captação de glicose pelas células e estimula a lipólise no tecido adiposo, elevando os níveis de ácidos graxos livres no sangue.
  • Acúmulo de triglicerídeos no fígado: o excesso de ácidos graxos é captado pelo fígado, onde é convertido em triglicerídeos.
  • Estresse oxidativo: leva à inflamação hepática e morte celular.
  • Disfunção mitocondrial: compromete o metabolismo energético das células hepáticas.

Fatores de Risco

  • Obesidade (em especial, abdominal)
  • Diabetes mellitus tipo 2
  • Dislipidemias (altos níveis de colesterol e triglicerídeos)
  • Hipertensão arterial
  • Síndrome do ovário policístico (SOP)
  • Apneia obstrutiva do sono
  • Sedentarismo
  • Dieta rica em gorduras saturadas e açúcares refinados

Sintomas e Diagnóstico

A esteatose hepática geralmente é assintomática, sendo descoberta por acaso em exames laboratoriais ou de imagem. Em casos mais avançados, pode haver:

  • Fadiga
  • Desconforto abdominal (em quadrante superior direito)
  • Hepatomegalia (aumento do fígado)

Exames utilizados no diagnóstico:

  • Exames laboratoriais: ALT, AST, GGT e fosfatase alcalina alterados.
  • Ultrassonografia abdominal: método inicial mais comum.
  • Elastografia hepática (Fibroscan): avalia rigidez hepática e grau de fibrose.
  • Ressonância magnética e tomografia: mais precisos, porém menos acessíveis.
  • Biópsia hepática: padrão-ouro para diagnóstico e estadiamento, usada em casos específicos.

Tratamento

Atualmente, não existe uma medicação específica aprovada para tratar a esteatose hepática, especialmente a não alcoólica. O tratamento baseia-se em mudanças de estilo de vida e controle dos fatores de risco associados.

Principais estratégias:

  • Perda de peso: redução de 7% a 10% do peso corporal pode reverter a esteatose.
  • Atividade física: exercícios aeróbicos e resistidos melhoram a sensibilidade à insulina.
  • Dieta balanceada: rica em fibras, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis.
  • Controle de comorbidades: como diabetes, dislipidemia e hipertensão.
  • Evitar álcool: mesmo em formas não alcoólicas, o álcool agrava o quadro.

Possíveis tratamentos farmacológicos (em estudo):

  • Pioglitazona (para diabéticos)
  • Vitamina E (em não diabéticos)
  • Agonistas do GLP-1 (como a liraglutida e semaglutida)
  • Ácido obeticólico (agonista FXR)

Prevenção

A prevenção da esteatose hepática é baseada em um estilo de vida saudável desde cedo:

  • Alimentação equilibrada
  • Prática regular de exercícios
  • Evitar ganho de peso excessivo
  • Controle rigoroso de diabetes e colesterol
  • Evitar consumo abusivo de álcool

Conclusão

A esteatose hepática é uma doença multifatorial e silenciosa, mas com potencial de causar sérias complicações hepáticas a longo prazo. Seu diagnóstico precoce e o manejo adequado — principalmente por meio de mudanças no estilo de vida — são fundamentais para prevenir a progressão da doença.

Com o aumento alarmante da obesidade e do sedentarismo, torna-se urgente reforçar a conscientização sobre essa condição. Médicos, profissionais da saúde e a população em geral precisam estar atentos aos riscos, sintomas e estratégias de tratamento da esteatose hepática, que, embora comum, não deve ser subestimada.