
Pode parecer estranho, mas no Brasil quem tem menos dinheiro é quem, proporcionalmente, mais paga impostos. Isso não é uma teoria da conspiração — é o reflexo de como o nosso sistema tributário foi construído. Enquanto os super-ricos conseguem formas legais de pagar menos, os mais pobres acabam arcando com boa parte da conta.
O peso dos impostos no consumo
A maior parte dos impostos que pagamos no Brasil está embutida nos produtos e serviços que consumimos no dia a dia. Desde o arroz e o feijão até a conta de luz ou um pacote de internet. Esses impostos são chamados de impostos indiretos — como o ICMS e o IPI — e não consideram se a pessoa é rica ou pobre.
Agora pensa: uma pessoa que ganha um salário mínimo gasta praticamente tudo o que ganha em consumo básico. Já uma pessoa rica gasta uma parte e investe outra. Ou seja, os mais pobres acabam pagando uma porcentagem maior da sua renda em impostos do que os mais ricos.
E o Imposto de Renda?
O Imposto de Renda, que deveria ser o grande instrumento de justiça fiscal, tem falhado nesse papel. Ele é progressivo no papel (quanto mais você ganha, mais você paga), mas na prática tem limites baixos e poucas faixas, e a alíquota máxima de 27,5% é aplicada tanto para quem ganha R$ 5 mil quanto para quem ganha R$ 50 mil por mês.
Além disso, quem tem renda mais alta muitas vezes consegue reduzir o imposto com várias deduções, isenções ou até investindo em formatos que pagam menos imposto. E tem mais: lucros e dividendos (ou seja, o dinheiro que empresários tiram das empresas) são isentos de IR no Brasil — uma raridade no mundo.
Um sistema que amplia a desigualdade
O resultado disso tudo? Um sistema que não corrige desigualdades — pelo contrário, acaba aprofundando-as. Em vez de redistribuir renda, o sistema tributário brasileiro concentra. Enquanto isso, os mais ricos continuam encontrando formas legais de pagar menos, e quem está na base da pirâmide segue pagando a conta no supermercado, no transporte e nas contas básicas.
O que poderia mudar?
Uma reforma tributária mais justa precisaria:
- Reduzir os impostos sobre o consumo, especialmente os itens essenciais.
- Aumentar a progressividade do Imposto de Renda.
- Voltar a tributar lucros e dividendos.
- Combater brechas e isenções que só beneficiam os muito ricos.
Enquanto isso não acontece, é importante entender como o sistema funciona — porque só com informação conseguimos pressionar por mudanças.